Grande suceso de público, essa toada de Valdir Rocha teria sido música sem grande repercussão não fosse a extraordinária interpretação de Ângela Maria; Abelim Maria da Cunha, seu nome de batismo, nasceu em Conceição de Macabu, distrito de Macaé, RJ, filha de pastor protestante, começou a cantar no coro da Igreja Batista do Estácio, no Rio de Janeiro.

Por ter voz potente e muita afinação logo despertou atenção de todos que a ouvissem; o sonho de ser cantora profissional levou-a a participar de programas de calouros, causando problemas familiares pois seu pai não admitia ver sua filha seguindo carreira artística, fato não muito bem visto na época.

Sendo fã ardorosa de Dalva de Oliveira, então no auge da carreira, passou a imitá-la, ganhando quase todos os premios dos concursos de calouros.

Desejando muito ser cantora profissional, abandonou sua vida modesta de inspetora na fábrica de lâmpadas da General Electric e foi morar com uma irmã em Bonsucesso, subúrbio carioca; por ser imitadora de Dalva de Oliveira tinha dificuldade em conseguir trabalho como cantora, mas mesmo assim conseguia fazer alguns programas de rádio e shows; numa dessas apresentações foi vista pelo então presidente Getúlio Vargas que impressionado com sua voz e sua figura chegou a dizer: "Menina, você tem a voz doce e a cor do sapoti", daí seu apelido de "Sapoti" (fruta de cor marron).

Estreou em disco gravando pela RCA os sambas "Sou feliz" e "Quando alguém vai embora" da dupla Augusto Mesquita/Ari Monteiro e Cyro Monteiro/Dias da Cruz.

Nessa época não havia predomínio absoluto de nenhum gênero musical na MPB, estávamos num período de transição e os sucessos eram muito mais determinados pelos cantores do que pelos gêneros musicais, havendo portanto uma verdadeira mistura de tipos de músicas: sambas-canções, boleros, mambos, toadas, sambas, valsas, rumbas, baiões, etc. Ângela Maria seguiu a moda gravando quase todos esses gêneros musicais.

Seus principais sucessos foram: "Fósforo Queimado" de Paulo Menezes e Milton Legey, "Não Tenho Você" de Paulo Marques e Ari Monteiro, "Orgulho" de Valdir Rocha e Nelson Wadekind, "Vida de Bailarina" de Chocolate e Américo Seixas, "Recusa" de Herivelto Martins, "Acordes que Choram" de Othon Russo e Nazareno de Brito, "Escuta" de Ivon Cury e "Labios de Mel" de Valdir Rocha.

Durante os anos 50 e 60 não houve uma única voz feminina que pudesse suplantar a de Ângela Maria; virou ídolo e musa do Brasil através da Rádio Nacional pela sua belíssima voz e pelo seu tipo físico de morena brasileira linda e graciosa.

Foi a cantora brasileira que mais gravou, sendo 50 LPs e inúmeros compactos e 78 rpm; até hoje é referência geral de voz feminina na MPB, tendo influenciado algumas de suas sucessoras como Elis Regina e Clara Nunes; cantora de músicas românticas tornou-se famosa pelos agudos muito bem dados e pelos finais apoteóticos em suas apresentações, principalmente na música "Babalu" um de seus grandes sucessos.

Ângela Maria apesar de muitos casamentos não foi feliz em sua vida pessoal e sentimental nem teve filhos mas adotou e criou várias crianças como se fossem filhos legítimos.

Lábios de Mel

Música e Letra de Valdir Rocha

(1955)

Meu amor quando me beija
Vejo o mundo revirar
Vejo o céu aqui na terra
E a terra, no ar
Os seus lábios tem o mel
Que a abelha tira da flor
Eu sou pobre, pobre, pobre
Mas é meu, o teu amor.

Quem tem amor, peça a Deus
Pro seu bem

Lhe amar de verdade
Para mais tarde
Não ter desengano
E chorar de saudade.

Quem foi na vida
Que teve um amor
E este amor
Sem razão lhe deixou
E até hoje não guarda
No peito a marca da dor

Música: Lábios de Mel

Autoria: Letra e música de Waldir Rocha

Interpretação: Ângela Maria e Fagner

Pesquisas e história por Dárcio Fragoso

Projeto, edição e Formatação por

Marilene Laurelli Cypriano

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